segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Natal é época que convida ao amor


O espírito do Natal convida ao encontro, ao estar "com", a fazer-se em alegria despretensiosa onde a vida em um ano, normalmente é passada a limpo, avaliada nos seus prós e contras, e dão espaço a sonhos de projetos outros, que fazem dela (a vida) ser um movimento dialético, um eterno recomeço. Com os idosos é tão mais interessante esse resultado. Não há harmonia nos passos e gestos, cada um a seu modo usufrui do encontro como uma novidade extra, distante de sua rotina de casa, idas à farmácia e ao centro de saúde, preocupação com a família, netos, filhos e com a saúde. Cada um com seu ritmo, suas crenças, seus receios, suas esperanças de viver melhor, com qualidade. Eis a palavra! Qualidade!  O encontro hoje serviu para um monte de coisas, mas essencialmente, para reafirmar a certeza de que podemos seguir por um caminho onde as pessoas não devem ser tratadas apenas com técnicas marcadas pelo dualismo cartesiano da pura e simples exatidão onde a doença e a saúde estão refugiadas. Fizemos algazarra, dançamos, falamos de coisas sérias e resgatamos brincadeiras da infância, tudo perfeito. E fizemos isso sem nenhum medo de romper com uma sintonia que teima em fragmentar nossas práticas de saúde. Fugimos da correria onde tudo converge natural e perigosamente para ações individualizadas onde cada um faz a sua parte.Quem irá reunir os mil fragmentos espalhados do que foi esfacelado num mesmo indivíduo que contemporizamos no encontro solitário dos consultórios? É esse nível de experiência do fazer em saúde que alimenta e mata a fome de uma carência própria  e que satisfaz o ser humano porque o aproxima de uma maior possibilidade de inteireza. No espaço privilegiado que alberga o grupo desponta a necessidade que todo ser humano tem, de viver coletivamente, de saber-se no outro aquilo não viu ainda em si, porque espelhos não avaliam antes de refletir a imagem, mas encontramos nos pares o olhar que nos remete ao encontro conosco também. Lemos nas histórias alheias os desejos que nos assemelha, aquilo que não experimentamos, mas que gostaríamos; nos identificamos numa fome de saber/sentir o ainda não alcançado, naquilo que está no plano do desejo e que muitas vezes, agoniza em nossa lógica linear. É justamente o fato de aceitar essa angústia como parte da condição humana que permite ao homem desenvolver-se como um ser ético; para tanto, deverá estar o tempo todo construindo o seu processo de autonomia. É o que afirma Nelson Levy (1991), preocupado em conceituar o homem como ser ao mesmo tempo desejante e ético.
A Educação em Saúde é mecanismo importante para o trabalho em grupo, que usa ferramentas que demandam ao profissional de saúde habilidades para desenvolver tarefas cujas exigências estão no campo não só das ciências biológicas e da semiologia - não cabe explicar sintomas, causas, pioras e melhoras. Exige uma maturidade para falar das relações sociais, requer aproximação com a psicologia, com as artes e com práticas alternativas, que fogem ao dia-a-dia do serviço de saúde. Ainda precisa muito ser materializada no discurso institucional que dialoga e exige até, das equipes, o desenvolvimento dessas práticas, mas no fundo, não vê o quanto de necessidade e apoio, ela carece para se tornar ação.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Calçada Amiga: A percepção da violência sob a ótica da comunidade



A ideia da roda de conversa é proporcionar a troca de pensamentos, opiniões, visões e leitura que  fazemos do mundo à nossa volta. É acima de tudo a busca por convergência mesmo diante do que se mostra infinitamente contraditório. O encontro hoje com a comunidade, descortinou a angústia que persegue o mundo contemporâneo: a Violência. E o cenário, curiosamente, era uma igreja. As palavras às vezes calam algo que permanece tão mais escondido dentro de nós, mas a fala do outro trás à tona aquilo que tentamos segurar, com medo de nos expor, com receio de nos revelar. Assistiu-se a um colóquio onde a violência foi triturada em pedacinhos para cada um explicar, segundo suas próprias convicções, suas causas e consequências, seus resultados e suas soluções. É complexo o manejo do tema em uma comunidade que experimenta a sensação de estar largada no mundo, desfiliada das políticas sociais que protejam os indivíduos, órfãos de governos que não olham e agem para os domínios dos cidadãos  "sócios" de uma cidade, onde nela constroem seus sonhos de vida. O embate, se assim pode-se falar quando em roda, trás também uma percepção das responsabilidades não só coletivas, mas no plano individual, nas transformações que ocorrem na estrutura e dinâmica das famílias - o jeito de lidar com os conflitos, desejos e perspectivas dos filhos jovens, a educação e edificação de valores. Houve quem defendeu a palmada como modo de conseguir deter tanta liberdade. Houve quem manifestou descrença pelo antagonismo liberdade X responsabilidade. Houve quem desejou o retorno da ditadura como meio de frear a decadência da sociedade, como medida derradeira de evitar sua destruição. Houve os que apontaram o dedo em direção a uma ferida autofágica- a estreita relação entre a violência e as drogas. Que construção pretende uma comunidade que não se mobiliza coletivamente em torno dos seus interesses? que não dialoga de maneira propositiva e com implicação de atos para o seu crescimento, seu cuidado e sua proteção? Como percorrer este campo íngreme e difícil de caminhar onde moram os desafios de se superar a negação ao afeto, ao carinho e ao amor, tão necessários para não se encontrar justificativas e benefícios em castigos físicos na educação de crianças e jovens. Para encontrar resultados que deem conta de sua composição futura como SER não desprovido de proteção? Como essa comunidade pode combinar seus desejos coletivos e realizá-los se não praticar o exercício do diálogo, da grupalidade e da generosidade de construir juntos uma maneira de convocar o poder público para retomar seu papel social, exigir dele também, esse cuidado e essa proteção que deve ser disponibilizada para todos? Não há nenhum segredo em viver, tudo recomeça agora, a partir deste instante. Aquilo que não foi construído poderá vir a ser, depende muito de como vamos nos mover, qual direção seguir, para que lado olhar e que passos essa comunidade almeja trilhar. O entendimento da violência como fator desestruturante das relações sociais passa também pela compreensão de que ela (a violência) funciona como um último recurso que tenta estabelecer o que é justo segundo a ótica de quem agride. Em geral, a violência tem uma motivação corretiva que tenta consertar o que o diálogo não foi capaz de solucionar. Portanto, sempre que houver violência é porque alguma coisa já estava errada - e é essa coisa que precisa de maiores cuidados. É essa coisa errada que precisa ser corrigida para diminuirmos os tipos de violências. São esses encontros que vão se constituindo em espaços de inúmeras possibilidades de se fazer cidadãos livres e conscientes do seu papel no mundo de interesses comuns. É essa a magia que a roda de conversa proporciona, e que tem no PESA o nome singular de CALÇADA AMIGA. Vamos teimando porque pode dar muito certo.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Calçadas Amigas: pequeno relato de experiência





O ano era 2005, o mês não lembro agora, mas não importa. Estávamos sentados na calçada. Uma roda de conversa se formava, cada um trazendo um banco ou cadeira para um encontro na rua, numa tarde agradável. Após a acolhida de todos, começou-se o debate e os mais diversos problemas da rua, do bairro e da cidade iam sendo despejados na roda, até que uma senhora revelou algo inesperado: "Tenho vergonha de dizer onde eu moro, porque tem um lixão na entrada da rua e essa referência me deixa envergonhada". Questionou-se então, se mais alguém, que morava na mesma rua também sentia isso. Qual não foi a surpresa, muitos compartilharam do mesmo sentimento, e alguns que não enxergavam aquilo como problema, passaram a olhar a situação com outros olhos. A partir deste momento, tivemos em público uma verdadeira aula de cidadania exposta e carente em encontrar ecos nas suas reivindicações e desejos coletivos e se fez então algo que é a essência do pensamento "paulofreiriano" - a mobilização das pessoas pelo viés da compreensão de que "não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão". Todos falaram, e falaram muito, e teceram idéias, analisaram o fato, suas causas e consequências, de quem seria a responsabilidade, o que poderia ser feito, quem iria fazer, quantos poderiam participar, que ações seriam necessárias para equacionar o problema, quem, verdadeiramente, estaria disposto a se implicar. Formaram-se comissões para cuidar de cada uma das etapas. Convocaram-se os órgãos públicos de interesse, chamou-se para um encontro entes privados donos do terreno na entrada da rua, mostrou-se a reivindicação da comunidade, buscou-se envolver as escolas e outros sujeitos para "engrossar o caldo" da ação, que exigia uma mudança de postura dos moradores na sua relação com o lixo. Fez-se um trabalho de recuperação no local, retirou-se as caçambas de lixo, em caminhada foi-se em cada domicílio da rua para explicar a necessidade de não mais colocar o lixo na esquina e mantê-la livre da poluição.No dia marcado para a transformação, onde antes havia o lixo plantou-se flores, árvores, coqueiros, fez-se teatro e poemas para estimular no cidadão á ética ecológica, aquela que não cabe em si sozinha, não cabe sozinha em ninguém, todos têm que possuí-la, sob o risco de ninguém escapar no fim. Eis um relato da experiência do que são as CALÇADAS AMIGAS, importante ferramenta de utilização para o trabalho de EDUCAÇÃO SANITÁRIA E AMBIENTAL a que se propõe o PESA ( sem maiores pretensões de citar nomes de pessoas ou órgãos - eles existem, mas só são importantes quando citados na pessoa do NÓS). 
E  é impossível encontrar verdade maior que possa ser traduzida nas palavras de Paulo Freire assim por ele pronunciadas: "Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes." Então, é desse jeito que o PESA se revela, como programa local num bairro periférico de uma cidade linda, mas que esconde lá (nas bordas dessa cidade), seres desejantes de um mundo melhor, uma vida melhor...uma rua melhor.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

MEU NOME NÃO É CLEIDE, MAS ME CHAMAM CLEIDE


"Estou me sentindo doente, mas vou melhorar. Não preciso de internamento, só preciso que me respeitem. Eu queria que respeitassem o que eu sinto. Eu tomo  banho, eu me alimento, eu tomo meus remédios, eu durmo. Eu vou me curar, se Deus quiser, e ele quer." O que há de errado nesse desejo? Onde está a completa insanidade? Onde está a  necessidade de hospitalização? O chamado urgente para uma visita domiciliar, fez com que parte da equipe de saúde "perdesse" metade do seu tempo para o almoço nesse dia. Fomos ver na expectativa de algo muito sério e muito grave, pois o que se pedia era pungente: "Venham rápido ela precisa de ajuda, a família já não sabe mais o que fazer". E a gente treme na base quando a questão está na ordem da Doença Mental. Há tantas coisas implicadas que afetam o enfrentamento dessa temática! É tão angustiante quando temos que nos debruçar sobre essas patologias.! Afinal, qual o limite e a  responsabilidade da ESF diante desses casos? Como mobilizar saberes, atitudes e práticas que deem conta de amparar todas essas necessidades? E como ignorar que esses são diagnósticos que compõem a terceira morbidade entre o perfil epidemiológico da área? Não é algo que  possa ser deixado de ver. A narrativa do cotidiano de familiares foi o que pareceu mais preocupante. Na tentativa de superação, buscam os profissionais de saúde,  e o encontro é cheio de aflição. Eles bradam a inconformidade com o rompimento, com o isolamento afetivo e social, do sujeito, pelo qual ainda que, aparentemente rude, tem forte ligação parental e afetiva. Todos dizem: "Só queremos o seu bem. Queremos lhe  ver bem. Queremos que você fique boa". E dizem isso exasperadamente. Num tom que beira o precipício. A tensão desses encontros (ou desencontros) revelam uma necessidade enorme de recuperação, não só do paciente. Obriga a equipe a repensar o cuidado com o olhar focado na família. Os familiares precisam de ajuda, e muita! Foi o que vimos. Curiosamente, durante a visita a paciente era o ser mais calmo entre todos ali presentes. Ela e o médico. Ambos ouviram num silêncio quase metafísico os debates nervosos da família, todos dando receitas para a cura, ao mesmo tempo. Um mergulho na turbulência de dúvidas e conflitos. No fundo, não há aceitação fácil para lidar com o drama cotidiano de um doente mental, tanto mais quando a doença, está atingindo muito a esfera orgânica e interferindo no modo de se portar no dia a dia. Sim, porque diante deles está alguém que fala, come, responde, é jovem, não tem doença que exija ficar na cama o dia todo...e o que enxergam é a falta de coragem e ânimo, do não desejo de melhora...É desesperador ouvir tanto julgamento. Evidentemente que as dificuldades, os problemas dessa família, e seus dilemas, exigirão da equipe uma aproximação que a coloca para o centro dessa experiência, não podendo negar a infalibilidade e a necessidade de enxergar para além da doença, a história e a existência de cada um. Não há nada mais humano do que temer ao resultado disso. Nunca mais tinha ouvido nada tão humano quanto o que foi pedido por Cleide. E seus dois únicos sorrisos dirigidos a nós, durante a visita,  atingiram em cheio nossa impotência. Não só eles...nós também vamos precisar muito de ajuda.
De repente uma necessidade de ouvir um blues.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Tenda do Conto em Cidade Nova: Encontro lindo, cheio de emoção.


E elas chegaram com aquelas malas de rodinhas. Alguém perguntou: vão viajar? Respondi: Sim, vamos todos viajar. Vamos mergulhar numa experiência que tem um encanto assombroso e tira de nós lembranças empanadas...longe na memória... encobertas pelo tempo. Todos foram buscando acomodar-se e impossível foi não perceber os olhos curiosos debruçarem-se sobre os objetos que estavam sendo espalhados sobre a mesa. Na expressão do rosto, todo espanto e curiosidade. Espalharam-se pétalas de buganvileas sob a mesa, malas customizadas de vários tamanhos no chão, penduraram bonecas de pano e urupemas numa colcha de fuxico, toda sorte  de objetos carregados de imensa simbologia e significados no imaginário daqueles inúmeros pares de olhos que curtiam a novidade do encontro naquele dia. Típico encontro com arquétipos. E a cadeira de balanço? Ah! eis aí o objeto mais intrigante. Coberta com uma manta, cheia de almofadas, pronta para balançar a quem se submetesse testar sua  identificação e conquistar a coragem de expor a autonomia pessoal, a própria liberdade interior e acima de tudo a autocompreensão dos seus processos existenciais. A mensagem pronunciada por cada uma das falas revela, o que temos de nós em forma de dor, saudade, prazer ou alegria. Inegável quanto de  desconsolo humano carregamos, tantas vezes anônimo e cotidiano, diante das perdas irreparáveis, ausência de pessoas amadas, da saúde fragilizada, da felicidade que às vezes se faz tão distante, do trabalho que nos sucumbe e que pode ser mais motivo de desamparo em algumas ocasiões. Quem consolará a todas essas intempéries dispersas nas nossas memórias até os dias de hoje?. Trazê-las à tona causa tanta reviravolta interior! Como são preciosas as pessoas quando se aproximam com ternura das suas mais duras vivências! E há um maravilhoso  projeto de amor embutido em cada uma dessas vidas que conseguiram emergir e chegar até aqui, para lembrar que no fim tudo que se viveu de mais doloroso não minimizou o desejo e a esperança de ser feliz. Percorrer o caminho da memória traz de volta a percepção da totalidade e junta a realidade que em nossa história de vida se fez em mil pedaços. E isso é tão bom para percebermos que,  até quando ainda formos nós, seremos sempre o complexo e magnífico testemunho das nossas idéias e sonhos. A Tenda do Conto nos convida a  passar por cima do nosso desamparo pessoal e prestar atenção em quem está do nosso lado, acolher suas lágrimas, suas dores e dissabores; nos estimula a curtir os mesmos sorrisos,  alegrias e lembranças boas; compartilhar no fim, abraços e afetos. Não há nenhuma rigidez ou ordem predestinada, somente ouvir em silêncio, substrato necessário para se consuma do outro aquilo que o milagre da TENDA pode dar. 

sábado, 28 de setembro de 2013

Maria é ser dom... é ter magia


Maria  traz no corpo a marca de todos os sonhos já desfeitos. Seus sonhos foram transferidos, realinhados para outras existências, para as gerações que lhe perpetuarão, a despeito de todo e qualquer destino que lhe tenha sido reservado.Tem na alma toda a dor das impossibilidades e pelejas, das lutas pela condição inesperada de nem mais andar, de conviver com um diagnóstico inconcluso mas que sente todo o drama da realidade que traz em si. Sua trajetória cheia de feridas quentes que lhe atinge não só a carne, que lhe marca também o desejo de amar e por isso mesmo, experimentar todas as tramas e ardis de quem neste mundo se permite ao amor e por consequência,  a dor pela canalhice e a falta de honradez masculina. Ser deixada de lado pelo seu homem no momento de maior carência física, afetiva,  financeira... quanta ignomínia! E pensar que Maria pudesse desabar, descer ao chão, ao mais profundo onde a tristeza e a solidão pode nos encontrar... É bem verdade que ela chorou. Chorou mais que "Alice" e só não se afogou porque não mudou de tamanho. Pelo contrário, do canto reservado que acomoda e cabe sua invalidez, da mesma lágrima também se fez de novo o riso, a alegria, a gratidão. De posse de sua velha e emendada cadeira de rodas, doada graças à morte, que levou seu antigo dono, tempera com sal e alho suas panelas, sente os respingos quentes que lhe atinge o tronco, e tanto melhor! Se lhe chegam às pernas, queimam-lhe, pois não as sente. Neste momento, não há nenhum vestígio de desamparo. Não há sentido de dó ou pena, é só uma mulher rompendo a barreira da deficiência  cozinhando com plena suficiência para alimentar  todos ao seu redor. Sua esperança encontra esteio e substrato no barulho e algazarra que os seus netos fazem durante todo o dia, sim, porque ela é para eles escapatória  da creche,  e eles para ela, a possibilidade de engendrar um cotidiano familiar, com tarefas domésticas, cuidados e gritarias de crianças, tão comum e tão necessário para não sucumbir à sua própria miséria. E ela tenta não se curvar a nenhuma visão ou previsão pessimista, somente a febre das infecções quando lhe atingem, os calafrios que rompem a barreira de sua paralisia, lembrando-lhe que há um corpo, pelo menos meio corpo, que lhe avisa os sentidos de que é hora de maiores cuidados. É tempo de acionar a equipe de saúde  e alguma terapia extra para que ela possa retomar sua rotina. Maria é a expressão máxima do movimento incessante das contingências das coisas. E contingente para ela é o que muda inesperadamente, imprevisivelmente. Na sua pobreza devoradora há uma compreensão muito maior e não menos bonita de que aquilo do qual  ela mais carece é também o que a faz ser, viver e sentir com uma destinação humana, como um direito a ser conquistado. Seja como for e quanto de si ainda resta inteira, o que Maria quer é ser feliz e manter a "estranha mania de ter fé na vida". A força dela nos serve de alerta e nos remete a transcendência, a superação de tudo quanto, não mais podendo  ser, caia então no plano do desejo. E aí então, no espaço do desejo,  tudo recomeça...

sábado, 31 de agosto de 2013

"Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada"



"Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada". Não há nada mais desalentador que ver algo cuja solução não temos domínio. Mas também, não há pior sentimento do que desistir  antes de tentar uma saída. As eleições do conselho comunitário do bairro deveriam servir para despertar o ânimo à participação dos sujeitos na concepção do que é comum e que diz respeito a todos. Do que foi dito e do que vimos resta uma certeza de que sempre teremos o ranço secular de na política, assim como na casa grande, a medida da força pelo poder que esmaga e cala a maioria, aqueles cujos direitos são e não são ao mesmo tempo seus, pois que não podem ou não sabem escapar ao seu indulto. Candidatos que não veem nada para além de suas próprias garantias e possibilidades de aquisições pessoais, individuais. O discurso cheio de promessas vãs; além de vãs incapazes de tocar algum sentimento libertador. Tudo fica na ordem dos favores e na maledicência de uns para com os outros. Nenhuma capacidade de mobilizar para o debate maduro, consciente e livre. No fim ganha aquele que conseguiu maior contato, que lembrou mais os atos livres das espúrias, por eles mesmos purificados; sempre o esforço colossal de manter todas as mentes quietas, as línguas moles e relaxadas para um sim submisso e desinteressado, só o movimento de seguir fulano ou cicrano porque já é há tanto tempo o presidente do conselho do bairro. Mudar pra quê? E os outros? Quem são? Ah! terá que entender seus propósitos? saber quem são? o que irão fazer? Dá trabalho pensar, ouvir, se envolver. Melhor seguir tocando a vida, levar filhos e netos à creche e rumar para o trabalho, ou calçadas para jogos de dominó ou fogão, preparar o almoço, dormir depois e aguardar o outro dia chegar. O s outros nem de longe, se apresentam também, em real possibilidade de novas construções de um ideal, onde a maturidade politica da comunidade pudesse deslanchar. Vemos as mesmas baixezas, os mesmos engodos e as mesmas manobras que fazem do exercício da  política algo tão execrável, por vezes. Há muitos péssimos exemplos a seguir. Do maior ao menor cortejo de párias que se colocam como "resolventes" seres aos nossos mais complexos problemas de vida em comunidade/sociedade. Esse estado de desvinculamento que prolifera nas gerações que, estranhamente, têm mais acesso a ver, ler e assistir a vida política do bairro, da cidade e do país, que vai mais pra escola, que usa mais internet, e que lhe facilitaria enxergar tudo sob outros prismas, não consegue fazê-las (as gerações)   se desvencilhar da perspectiva caótica que se instalou quando a discussão emerge para a política. E a falta dessa implicação com responsabilidade e senso de justiça para ouvir e interpretar os atos e os gestos de quem se dispõe a ser o POLÍTICO da vez, faz mergulhar ainda mais no abismo da ignomínia, onde o desejo que precisava ser desejado por todos fica retido e solitário nos corações e mentes de alguns, apenas. Tudo leva a reforçar a crença de que política é só para os políticos e quem bem tiver juízo, nisso não se mete. Que estranheza essa, do homem, de se negar, a si próprio, o direito e a diferença concedido como um dom, que o distingue dos demais seres com os quais compartilha o espaço, neste planeta!

domingo, 18 de agosto de 2013

Saneamento Básico: O retrato de Cidade Nova é diferente de Natal?



Nenhum domicílio do bairro possui esgotamento sanitário. As fossas espalhadas por todos os quintais dos bairros, sejam periféricos ou os de áreas privilegiadas e não só em Cidade Nova, já se tornaram uma ameaça à potabilidade da água em Natal. A água servida é destinada para valas instaladas na frente das casas, tornando-se criadouros de mosquitos que rompem a integridade da pele das crianças e adultos causando dermatoses que recidivam o tempo todo. Verminose do tipo áscaris passa a ser a mais comum das mazelas entre as crianças menores de cinco anos, perturbando-lhe o ganho ponderal e alterando-lhe a curva do crescimento. É nesse cenário e sob essas condições que nascem e crescem as crianças de Cidade Nova. O desafio de atuar e desenvolver práticas de saúde que alterem essa realidade, não pode prescindir do estímulo ao exercício da cidadania, nem da busca de direitos às políticas públicas que proporcionem condições adequadas e favoráveis à vida das pessoas e à proteção das crianças. O PESA quando coloca em sua pauta de ações a emancipação política e ética da comunidade, o faz tão somente, frente a necessidade de produzir nos sujeitos, desejos e anseios de construção de um modo melhor de se viver, e fortalecer na comunidade o surgimento de um sujeito político que não se deixe submeter a essa forma dominante, domesticante e alienante de se fazer política  perpetuada em nossa realidade. Que assumam o papel de construir-se novos seres políticos cuja perspectiva,  passa a ser o nascimento de seres humanos onde o significado localiza-se no conjunto de relações sociais, de maneira que não se reproduza a cultura que oprime e disciplina os corpos, idéias e desejos, mas que promova em suas vidas a emancipação coletiva e individual; a antecipação de suas práticas onde reine a liberdade sem domínio neste mundo. Discutir também que as atitudes conscientes significam importante compromisso frente à natureza, para que não reproduzam, e até impeçam, a lógica depredadora e desintegradora que se reconhece no conceito de “exploração”; que cultive o desafio à manutenção da criatividade, inventando uma maneira de viver no mundo que permita estabelecer relações de intercambio com o ambiente no qual nascemos e crescemos, evitando os riscos já evidentes de sua destruição, ou de torná-lo inabitável para a espécie humana; começando pelo locus, o pedaço menor, a fatia cuja maior apropriação se tem, que é o espaço domiciliar e urbano do bairro, para seguir defendendo, com atos e escolhas, o que for melhor para a cidade, o país, o planeta. As oficinas de Educação Ambiental para a comunidade dispararam uma série de intervenções e demandas para órgãos públicos que com efeito, tiveram que atender ao chamamento e as exigências do desejo coletivo de mudanças e soluções. O planejamento de manter o trabalho de EA nas escolas com crianças e jovens, foi crucial para imprimir na pauta das famílias e instituições, a necessidade de pensar o ambiente de maneira responsável, onde todos compreendessem que os processos cotidianos de criação de autonomia, de constituição de sujeitos individuais e coletivos, protagonistas de sua própria história podem e devem ser, exercido por todos. No momento, os alunos que passaram pelo processo de capacitação em EA irão elaborar uma cartilha com suas impressões e aprendizado, sobre os problemas ambientais do bairro. O projeto foi financiado pela PROEXT/UFRN/MINISTÉRIO DAS CIDADES e  coordenado pelo  DSC/UFRN  e PESA-USF CIDADE NOVA. Parcerias  que dão todo o sentido a ele - o PESA- ser o programa que é.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

"Todo ser humano é um estranho ímpar"



"Posso falar com a sra? que história é essa que o médico vai embora? nós não temos mesmo muita sorte! Ficamos sem médico um tempão (dra Inácia era tão boa mas foi embora) e quando chega um que escuta a gente, não tem pressa em terminar a consulta, que "incaica" a gente todinho, examina direitinho, só passa remédio bom que a gente logo cura... aí vem a notícia que ele vai embora. Com a sra e com esse médico a gente tava garantido, mas agora? como vai ser? nós não podemos ficar assim...temos que fazer alguma coisa, o que essa secretaria tá pensando? esses pensamentos tortos de tirar o médico daqui, num tá certo não." (J.B, 63 anos). Fui abordada no corredor da unidade esta semana, para ouvir esse desabafo de um usuário que está diariamente no serviço para tratar  úlceras venosas, que melhoram e pioram  o tempo todo. É tão interessante ouvir da comunidade suas impressões e aquilo que para ela tem realmente significado! Na fala deste senhor é nítido o sentimento que coloca em graus de valoração, o profissional que o atende, muito mais no plano humano e do cuidado ético, do fazer com implicação, da atitude acolhedora do que na solução para o seu problema. Sim, porque apesar de ter conseguido ser medicado, visto por angiologista/cirurgião vascular, seu problema continua lá, arrastando-se. Mas percebe-se na fala o acalento e ânimo em saber que quando precisar, o médico vai estar lá. E pode-se até esquecer o quanto de iniquidade há em certas condutas.Tantas vezes consegue-se com tanta dificuldade marcar consultas com os ditos especialistas, para constatar depois que as práticas e condutas seriam as mesmas tomadas na USF. A despeito de qualquer resultado, mesmo considerando que ele, no fim, é o que se busca, precisamos dessa clínica do olhar, do palpar, ver e enxergar não só o corpo, mas essencialmente, "o sujeito que habita o corpo"- a clínica dos afetos, que se despe, em parte, do positivismo e da visão radicalizada no plano cartesiano; a ciência permeada por uma subjetividade que vem do sujeito que ali se põe aberto, frágil e inteiramente disponível para o tratamento dos males que lhe afetam, até mesmo os aspectos mais intrínsecos de sua personalidade, o jeito de ver e pensar as coisas. Ele vem (o sujeito) aberto e exposto ao julgamento do saber técnico, da ciència por excelência. Suas crenças e suas impressões, por vezes, não recebem da clínica, qualquer validade. E ele (mais uma vez, o sujeito), só ele, na maioria das vezes,  pode reconhecer em seu corpo físico elementos que para outros são profundos segredos. Não haveria momento melhor para perguntar que importância se vê na figura do médico e na solução concreta deste, aos seus problemas...à sua saúde, mas não foi necessário. Estava ali, escancarado na sua fala, que a importância vem do modo de ser e de agir que, especificamente, esse médico, por quem ele lamentava, imprimiu na relação com o paciente, e sob que bases decidiu pautar a sua forma de cuidar. E é assim que nos deixamos transparecer... permitir aos outros enxergar nossas raridades. O eterno movimento de sermos igual-desigual como nos lembra Carlos Drummond de Andrade:

Igual-desigualEu desconfiava: 
todas as histórias em quadrinho são iguais. 
Todos os filmes norte-americanos são iguais. 
Todos os filmes de todos os países são iguais. 
Todos os best-sellers são iguais 
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são 
iguais. 
Todos os partidos políticos 
são iguais. 
Todas as mulheres que andam na moda 
são iguais. 
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais 
e todos, todos 
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais. 

Todas as guerras do mundo são iguais. 
Todas as fomes são iguais. 
Todos os amores, iguais iguais iguais. 
Iguais todos os rompimentos. 
A morte é igualíssima. 
Todas as criações da natureza são iguais. 
Todas as acções, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais. 
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou 
                                                                                 [coisa. 

Ninguém é igual a ninguém. 
Todo o ser humano é um estranho 
ímpar. 

Carlos Drummond de Andrade, in 'A Paixão Medida'



domingo, 4 de agosto de 2013

" A saudade até que é bom...é melhor que caminhar vazio"



Nos vem, as vezes, de longe... de tão longe certas lembranças, daquelas que alimentam a alma e dá uma saudade enorme do que já foi. Quando  bem  jovens somos incivilizados com o tempo. O tempo de escolhermos que adultos queremos ser, tempo que tem pressa em ser, sem espreitar  tempo algum que ainda resta, porque nos sentimos eternos e duradouros. As coisas para as quais nos entregamos, as tarefas pelas quais nos desdobramos tendem sempre a nos afastar das pessoas e fragilizar vínculos estabelecidos em momentos preciosos do SER. Corremos feito leopardos na savana, em busca de uma liberdade e de uma procura que nos torne completos, porém no final, sempre percebemos que não chegamos inteiros, alguns não chegam nem pela metade. Não há nenhuma completude em nós... não haverá nunca! Eis uma busca inútil. Estamos reservados como espécie, à condição de não acabados, de construção permanente. Nossa miserável espécie é feita de tal maneira que mesmo disfarçados de heróis e vilões, ainda assim, dorme dentro de nós um ser inocente, cuja maior angústia é não saber mais parar o tempo. Mas parar o tempo pra quê? Pra se sentir que  se correu demais e distanciou-se irremediavelmente de qualquer possibilidade de controle? Mas o que é o controle senão algo que nos acorrenta inexoravelmente ao engano? Não haveria sacrifício nem sofrimento maior ao ser humano do que perder sua condição de provisório? Ganhar a imortalidade para depois fazer o que com ela? Viver atormentado como Prometeu cujo maior desejo era ser mortal? Nossa condição humana é tão delicada e se faz tão distante de se amparar no que realmente é edificante, porque esquecemos de amar melhor, sentir melhor, olhar com inteireza e com todo sentimento aquilo que é mais essencial, aquilo que não exige tanto dinheiro nem muito esforço, porque já está ganho, é dado-nos como presente basta só apanhar e desfrutar. A ideia aqui colocada pode até parecer uma repetição simples do lugar comum, da inexistência completa do vir-a-ser, da filosofia facilitada desprovida de qualquer profundidade intelectual, e é mesmo, contudo, a despeito de qualquer exigência, e ao mesmo tempo em respeito a ela, é até por ela que não devemos nunca ocultar sentimentos, prazeres, saudades e desejos, seja lá como for a maneira que escolhemos fazê-lo e com a capacidade que está ao nosso alcance de legitimar e reconhecer que não estamos aqui, senão para viver bem, respirar bem... viver esse tempo sem aguardar que nos façam felizes. Temos o dever de providenciar as possibilidades das emoções que nos conduzem ao êxtase ou ficaremos acuados ante a própria incompletude e a inevitável angústia do confronto com a nossa temporalidade.
Porque o PESA pode trazer essa dimensão tão subjetiva, para esse espaço? Porque nos permitimos sentir e dizer que estamos com saudades do que já construímos, durante esses 10 anos de trabalho, onde tantas parcerias se construíram e se desfizeram, quantas pessoas incríveis edificaram junto o sonho coletivo da transformação e lutaram tendo como fundamental em seus atos, a luta em si. E agora, após concluídas suas tarefas, já que o tempo as afastou porque impôs limites  físicos ou lhes reteve pelo desejo de seguir nova direção e novos sonhos,  são ainda plenas de beleza e saudade, pelo que foram, pelo que permanecem sendo e ainda serão: dona Livramento, dona Fca Albino, dona Celina, seu Pedro, dona Cecília, dona Lourdes, Fátima Lucas, Alda, dra Inácia, Lidenice, Isabel, Ivone, Naim, Tadeu, Diogo, Raquel, Keyla Mafalda, Petrònio, Josivam Cardoso, Nívia...e tantos! mas tantos outros, que nem se pode contar.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Em atenção à semana do aleitamento materno


Não sei vocês, não sei os outros... sei de mim, o quanto me gratifica e me dá prazer acolher e contribuir para a superação das inúmeras dificuldades de uma jovem mãe tentando amamentar nos primeiros dias pós-parto. Mamas inchadas, mamilos em botões dolorosos, angústia ao choro sentido do bebê, incertezas e medos pairando feito nuvem. Até que as desconfianças contidas  irrompem em lágrimas pelo rosto e brotam dos olhos um profundo agradecimento porque, finalmente, a dor cessa e o leite desce em cascata, transformando em apenas um ser, dois corpos distintos: Mãe e filho num átimo de corporeificação única; Instante singular da existência. A visita domiciliar hoje, fez brotar subjetividades por vezes esquecidas, soterradas pela rotina. Subjetividades que materializaram-se ali, em duas vidas maravilhosas, crescendo e se fortalecendo lado a lado. Uma crescendo-se por dentro, construindo-se mãe. Outra crescendo-se por fora, construindo-se novo ser, ávido em compensar tamanho esforço do ato de sucção. Gestos que são ternos e eternos, por mais breve que eles sejam. É este o momento que aprendo de mim e me descubro afetiva, viva, intensa ...quando ouso por o coração à disposição do ato...quando não deixo a rotina endurecer e turvar meu olhar. A privação afetiva no exercício das práticas de saúde é muito nociva porque nos impede de ousar, descobrir e utilizar o melhor de nós próprios. Então descobrimos o prazer, a despeito de todas as contigências que permeiam o trabalho na atenção básica. O prazer...esse bichinho astucioso... ele se esconde em coisas muito simples.

domingo, 28 de julho de 2013

De quem e para quem é o Parque da Cidade D. Nivaldo Monte?



Durante a  caminhada no Parque da Cidade com usuários do serviço e equipe multiprofissional, pudemos perceber a generosidade da natureza e sua exuberância, cobrindo com um manto verde de vegetação as dunas, e servindo de abrigo para algumas aves e outros pequenos animais. Se de um lado, pudemos ver a natureza cumprindo o seu papel, alimentada pelas chuvas que caíram nesse período, por outro, vimos a depredação das estruturas físicas que compõem o parque: coretos pichados, elementos de iluminação destruídos, restante da obra inacabada, ausência da guarda ambiental (pelo menos durante o trecho que caminhamos, e não foi curto, não vimos sequer vestígios da presença dela, apesar de ter um número considerável de pessoas utilizando o parque para atividade física). Pensar que todas as dunas que circundam a região são protegidas por Lei Municipal como importantes para recarga aquífera da cidade e componente da
1ª ZPA (Zona de Proteção Ambiental) de Natal e que a iniciativa de construção do parque se constitui em medida para além de qualquer fim eleitoreiro ou narcísico do gestor, resta-nos defender e lutar para que cesse o descaso; Que a gestão municipal cumpra o seu papel de cuidar da cidade pensando no cidadão e no legítimo direito à cidadania ativa, com recursos onde se possa viver e manter sua qualidade de vida. Imaginar que todos os cidadãos de Cidade Nova que buscam acesso ao Parque têm que escalar uma duna ou superar os intermínáveis degraus de uma escada íngreme, representa, no mínimo, descaso e quem sabe até, preconceito com uma fatia de usuários do parque, cujo lado se estende para uma população carente e um bairro de menor importância para o poder público. Não é pra ser assim,  não pode ficar assim e a capacidade de se indignar, guardada dentro de cada um desses cidadãos de cidade Nova precisa ser despertada. O empoderamento da comunidade, seu papel e capital social disponível deve ser posto a serviço para se corrigir injustiças e descortinar certos preconceitos gerenciais. Não é sabido que a fatia do parque que dá para a Av Omar O'grady/Candelária, está toda concluída? Com acesso fácil, confortável? Então Candelária merece e Cidade Nova não? Por Deus! alguém me convença de que não há sabotagem nisso. De qualquer modo, fomos com o grupo HIPERDIA e outros moradores do bairro. É claro que os idosos que costumam frequentar nossas atividades ficaram de fora, como poderiam acessar o parque? seria exigir deles esforço demais e poderia comprometer sua condição física. Vamos discutir estas questões nas próximas reuniões e buscar juntos, soluções que sejam de interesse e envolvimento de todos.
Se perguntarem qual o sentido das equipes de Saúde da Família da USF, estarem envolvidas com essa questão, a resposta é bem simples, mas tem uma significância extraordinária: ESTAMOS FAZENDO SAÚDE, PROMOVENDO SAÚDE, ESTIMULANDO SAÚDE. E melhor, estamos ganhando saúde também, porque nos beneficiamos tanto quanto os usuários, com a caminhada.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Porque sonhar é preciso mais do que querer?

Somos construção primeiro da ideia do que queremos. Não há sentido no caminho sem a busca e sem o sonho, e nos movemos na tentativa de alcançar o alvo, a meta. Nem que sejam aquelas coisas que nem um milagre pode dar. Sim! até elas é-nos dado o direito de sonhar, por que não! A nossa finitude neste planeta é comovente, não pela displicência que tanto nos acomete, por vezes, de esquecermos desse detalhe, mas essencialmente, pela pressa que nos persegue a todo tempo. Ritmo louco, frenético. Tempo  de edificar alicerces que sustentam o amanhã de nossos desejos e perspectivas. Os sonhos nos alimentam de maneira terna e quente, dão a sensação de que é possível até o impossível, delicioso engano do querer que permanece ali, espreitando oportunidades.  E por que não! " Nós não desejamos as coisas porque elas nos dão prazer, mas elas nos dão prazer porque as desejamos". Seguindo esse pensamento de Spinoza podemos lançar  olhos e linhas até as estrelas, visitar superfícies, quimeras, atingir, ao menos em sonho, o lugar que não existe nem em pensamento e fazer-se por isso agradável  surpresa. A vida cotidiana com todas as suas vicissitudes nos sucumbe. Somos  resgatados pelos sonhos e por querer aquilo que está acima de qualquer lógica, aquilo que nos transcende, aquilo que só uma minoria compreende, aquilo que em nós é o nó e o laço ao mesmo tempo, porque nos aprisiona e nos embeleza, depende muito de como cultivamos nossos sonhos e de quem com eles dividimos. E como há verdade nas palavras de Quintana: "sonhar é acordar-se para dentro". E se assim for, há sonho mais lindo e poético do que a vida em si? Compreendê-la de tal maneira e com toda lucidez de que o princípio não está no ventre nem o fim na sepultura, que esses marcos são reveses e que, o que importa mesmo, tem sabor e significado de plenitude. O PESA é um programa que engendra sonhos possíveis e impossíveis também, por tudo que contém os seus propósitos e promessas, por aquilo que pretende edificar e, por vezes, encontrar tão menos reciprocidade do que merecia.

sábado, 29 de junho de 2013

Pensar diferente, fazer diferente, construir outros modos de ser... e se proteger das pedradas















O PESA  aposta na reflexão de que é necessário olhar para a forma como estão se desenvolvendo os processos de trabalho, a atuação das equipes, os modelos de atenção, a relação com os usuários e os serviços de saúde. A idéia da promoção como mecanismo, inclusive, de empoderamento e autonomia dos sujeitos. A superação da clínica degradada, por uma que amplie a visão e a busca por respostas, cujos esconderijos pertencem não somente ao mundo da doença, mas estão  aninhadas ao cotidiano, ao modo de cada indivíduo conduzir a vida, suas escolhas, as oportunidades, o acesso ao que é estruturante para a produção da saúde de cada um e da própria comunidade. A clínica ampliada tem uma potência extraordinária, porque permite enxergar no outro e em si mesmo o anverso daquilo que um olhar linear e unidirecional produz, ou seja, mais cegueira do que amplidão. A multicausalidade no processo de adoecimento é revelada quando sentamos frente a frente com o indivíduo, dispostos a compreender os verdadeiros e escondidos significados  para a ausência do seu sono, a sua fome, a sua fadiga e desânimo, as suas lágrimas que molham nossos papéis. Medicalizar a dor, a fome, a infelicidade e o  sofrimento é parte de um modelo sem alcances. Dar oportunidade ao corpo de ser esquadrinhado por toda a sorte de máquinas, não revela a verdade na maioria das vezes  porque o espírito, os desejos, anseios e medos são indizíveis por máquinas. Elas são necessárias, mas no momento certo, quando o sujeito recebeu da clínica, o olhar para o todo que lhe compõe. E nisto consiste a integralidade. Pensar que o remédio virou "remédio" para resolver problemas de saúde é um equívoco que só é permitido numa visão ingênua e imediatista, bem típica da comunidade. O remédio está na ordem da doença e na lógica nociva do capital, engendrada pelas indústrias farmacêuticas. Cabe às equipes de saúde a busca da desconstrução dessa visão e entendimento, e não reforça-la. Quando houver doença, ele precisa estar disponível e de preferência resolver o problema, mas ele não pode está na defesa e no discurso de quem se destina a gerir serviços e produzir saúde, como via única. Nisto consiste a aplicação e o  exercício da clínica ampliada, cujos métodos não são excludentes, muito menos reducionistas, mas acima de tudo, procura forjar na comunicação um caminho que leve a construção de sujeitos autônomos, cuja maturidade os faça buscar direitos, acessos e oportunidades que efetivamente promovam a saúde no âmbito individual e coletivo. A qualidade de vida e todas as circunstâncias e fatores desencadeantes devem e podem estar na pauta da assistência e do processo de trabalho das equipes, porque essa medida traduz um modelo disparador de trocas, de lucidez, informação e grupalidade tão necessários à  vida coletiva. Foi assim que no último 27 de junho á tarde, gastamos nossas horas laborais lá na USF. Nos reunimos com a comunidade para falar sobre a vida, sobre a importância dela... a qualidade dela. E foi muito bom!

domingo, 23 de junho de 2013

Como matar a sede de água com poesia...


E até então ele era um silêncio cerimonioso, compenetrado, num fazer calado e sempre. Com sua ferramenta, como todas as que estavam lá, a maioria das coisas produzidas por ele mesmo. Permanecia afastado um pouco dos demais  que se mantinham numa tarefa com as mãos mas o riso e a graça servindo de complemento. Mas ele não! Ele não dava conta do que se passava! Ele estava do outro lado. Nesse dia, depois da chuva, veio o sol . Era o terceiro dia do mutirão de limpeza da USF Cidade Nova,  e nem por isso havia desânimo. A camisa foi retirada para aliviar o calor e exibiu ainda quanta vitalidade para os seus setenta e tantos anos. Quão surpreendente foi vê-lo pedir água em forma de canção:
"menina dos olhos dágua
me dá água pra beber
não é sede não é nada
é vontade de lhe ver"
Corri depressa pra registrar esse momento tão raro e aqui compartilho com vocês. O PESA mostrando  as infinitas e surpreendentes possibilidades do trabalho com a comunidade. 


segunda-feira, 17 de junho de 2013

E QUANDO FALAMOS EM ACOLHIMENTO, PENSAMOS EM QUÊ?



















O acolhimento no campo da saúde deve ser entendido, ao mesmo tempo, como diretriz ética/estética/política constitutiva dos modos de produzir saúde e ferramenta tecnológica de intervenção na qualificação da escuta, construção de vínculo, garantia do acesso com responsabilização e resolutividade nos serviços. (M.S 2006)


Segundo essa definição no caderno da PNH, o Acolhimento passa de mero ajuste nos espaços de recepção ou de simples processo de melhoria na afetabilidade das relações entre usuários e profissionais de saúde, para uma compreensão muito mais ampla e de dimensões cujo alcance busca atingir os processos de trabalho, a solução para as demandas de saúde dos usuários e a garantia do acesso, incluindo neste aspecto, a integralidade. Pensando assim, como é possível que cada Unidade de Saúde, isoladamente, construa seu modo de acolher, tendo em vista essas questões que estão ou deveriam estar no plano de uma política institucional, que desse conta de estruturar uma rede hierarquizada e integrada, mas não estão. Que se preocupasse em permitir o pleno funcionamento da atenção básica (nível hierárquico do sistema considerado porta de entrada no SUS), mas não se preocupa. Que investisse num processo de capacitação, supervisão e avaliação permanente para as equipes de saúde, fazendo uma gestão equânime, justa e motivadora buscando alcançar os resultados estabelecidos nos pactos de gestão. Mas não investe. A despeito de todas essas questões que legalmente são colocadas em diversos documentos e portarias que regulam o Sistema, é-nos solicitado, construir, isoladamente, um Projeto de Acolhimento. Como se fosse possível o nível local resolver sozinho, todos os problemas que afetam o funcionamento do sistema; sim, porque um projeto de acolhimento que mude processos, que altere práticas, que resolva, que inclua e que atenda integralmente as necessidades de saúde da população teria que ser pensado institucionalmente e implantado nos serviços com apoio e supervisão. A impressão que temos é que nos é passado muito mais como tarefa, e como tal, perde toda a noção e significância enquanto diretriz estruturante das novas relações que se deseja estabelecer entre os serviços e comunidade.
Por que o PESA  traz essa discussão sobre acolhimento? Porque no cerne de toda essa reflexão, estão imbricados toda sorte de jogos relacionais. Somos resultado daquilo que nos move e nos leva de um lado para outro, representado em atitudes que agem e reagem para a permanência ou mudança; e  no confronto do que queremos e aquilo que o outro quer, sempre teremos o cenário, nosso" bioma" coletivo de interesses singulares. O EU E O OUTRO num encontro antagônico de necessidades díspares e plurais. A maturidade política, ética e coletiva da comunidade é um dos propósitos do PESA e é a partir dela que devemos seguir para a construção de novas relações com o outro, com o serviço, com o direito a cidadania e o exercício dela, com a sociedade e com o mundo que nos abriga, por enquanto... até quando ainda formos NÓS.

domingo, 16 de junho de 2013

MUTIRÃO DE LIMPEZA USF CIDADE NOVA



Equipes de Saúde e Comunidade se uniram num gesto simples e solidário, neste 6 de junho de 2013, para comemorar o dia do Meio Ambiente fazendo uma limpeza na área de entorno da USF. Matagal tomando conta do espaço, impedindo a circulação de carros e pessoas. Solicitamos à URBANA a poda das plantas e a retirada do mato e lixo. A resposta foi que o órgão não estava fazendo limpeza interna de instituições públicas do município. De quem então é essa responsabilidade? Sob que práxis quer fortalecer o discurso da humanização, da ambiência saudável e das práticas de saúde inovadoras? Só havia duas alternativas: deixar como está ou esperar reação de quem no dia a dia está lá, assistindo a tudo, se importando ou não. E a reação veio, através da sugestão do médico da equipe vermelha e da vontade expressa de fazer aquilo  que seria da ordem de quem se destina a assumir gestão. O PESA anualmente trabalha alguma atividade na semana do meio ambiente, e sem as instituições parceiras para o trabalho de Educação Ambiental tem tido inúmeras dificuldades para se sustentar enquanto PROGRAMA que tem como fundamento a intersetorialidade. Percebemos o quanto a comunidade é parceira da gente e como tem sujeitos com capacidade incrível de entrega, e que precisa somente ser mobilizada para dar respostas significativas em ATOS.
O PESA reserva esse espaço para legitimar a importância do trabalho vivo que reflete em resultados bons, a união, o desejo, a disponibilidade e intencionalidade das pessoas abaixo e agradecer imensamente sua participação:

  Seu FRANCISCO, VERINHA, LINDENBERG, MANOEL, GATINHO e demais usuários do        serviço que participaram do mutirão, recebam toda a gratidão do PESA  e saibam que de todos quanto participaram deste capítulo da história da USF CIDADE NOVA, são vocês os PERSONAGENS     PRINCIPAIS, dignos de toda honra. OBRIGADO!











Pela atitude nobre do médico WELLINTON LA PICIRELLI em sugerir o mutirão, colocando-se inteiramente disponível para a ação, unindo de maneira harmônica intenção e gesto, provando a todos que o cotidiano dos serviços de saúde pode e dever ser construído com novas práticas, novos olhares e  outros significados. OBRIGADO!






Pela lição valiosa que foi ensinada pela diretora ADRIANA,  com sua atitude de que “SE FAZ, FAZENDO”, e mostrando toda a potência que há na práxis, OBRIGADO!




JORGE e JOÃO MARIA, os ACS mais envolvidos efetivamente na atividade do mutirão, porque são de inúmeros  significados  os movimentos e os passos, o envolvimento e a produção dos atos, cujos resultados não se pode ocultar. OBRIGADO!



Às equipes de produção e distribuição do lanche, da organização do auditório, a todos os ACS que trabalharam na arrecadação dos gêneros alimentícios, a Nali e Hortência pelo apoio e logística sempre. Aos que contribuíram financeiramente com a programação, Aos estagiários da UFRN, Aos enfermeiros e médicos que cada um, a seu modo e no seu tempo, esticaram o elástico da disponibilidade, ajudando a fazer acontecer o mutirão. A TODOS que participaram desta atividade, contribuindo imensamente para chegarmos a uma verdade inexorável e bela de que: JUNTOS PODEMOS MUITO.
OBRIGADO!


domingo, 9 de junho de 2013

E SE ME RETIRAREM DAQUI....NADA MAIS DE BELO EXISTIRÁ


Por que é assim que eu sou. bela! Cresço ligeiro, estendo meus braços carregados de flores e me ofereço aos pássaros no espaço, no mesmo instante em que também desço ao chão e faço pra vocês tapetes. Nem sempre sou compreendida, pois que necessidade haveria de ter, flores tão bonitas, espinhos tão vaidosos! Decerto que sentem inveja da flor, roubam para eles a atenção de quem se aproxima, amam ferir e espalhar o medo. Com isso, ganho toda a repulsa,  todas as opiniões de que devo ser eliminada em definitivo ...as BUGANVILEAS de Dra Inácia. Gente! Corre aqui! alguém mais me defenda. Preciso ganhar mais adesão de pessoas que me queiram inteiras, perenes, que me podem só um pouquinho, de vez em quando, para eu não perder a beleza, nem deixe de ver o encantamento no olhar daqueles que se aproximam sem medo, e de mim levam o melhor cacho, as minhas melhores pétalas... e se ouso dizer que flor pode sentir, que pretensão a minha! Sinto-me estranhamente feliz quando de mim extraem o melhor.


Mas não posso muito, não posso nada além do que está determinado pela minha essência de  flor. Componho o cenário, trazendo vida a essa paisagem que de mim destoa, mas me envaideço de poder amenizar-lhe o desencanto, o descaso e a destruição que persiste ao longo dos tempos, por gestões, cujas mãos,  não seguram com firmeza o elo que deve existir entre a teoria e a prática, entre o discurso e a ação, e se faz no dia a dia como numa ciranda infantil, quando um corre mais que o outro, quebrando a cadeia, o elo, o sentido.
Louvo a liberdade do sentir, do desejo, da vontade e necessidade de desambiguação que permeia tudo que é vivo, porém já não me serve. Tudo já foi propalado! Não tenho forças para impedir... segurar o desastre. Por favor, cuidem de mim! De outro modo só terão para enxergar esse cenário triste que se estende abaixo... e sentirão saudades de mim.







quarta-feira, 5 de junho de 2013

E NO DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE... SALVAR OU ABATER SÃO REVESES?

"Duas lagartas teceram cada uma seu casulo. Naquele ambiente protegido, foram transformadas em belíssimas borboletas. Quando estavam prestes a sair e voar livremente, vieram as ponderações. Uma borboleta, sentindo-se frágil, pensou consigo: 
"A vida lá fora tem muitos perigos. Poderei ser despedaçada e comida por um pássaro. E, mesmo se um predador não me atacar, poderei sofrer com as tempestades. Um raio poderá me atingir. As chuvas poderão colabar minhas asas, levando-me a tombar no chão. Além disso, a primavera está acabando, e se faltar o néctar? Quem me socorrerá?". Os riscos de fato eram muitos, e a pequena borboleta tinha suas razões. Amedrontada, resolveu não partir. Ficou no seu protegido casulo, mas, como não tinha como sobreviver, morreu de um modo triste, desnutrida, desidratada e, pior ainda, enclausurada pelo mundo que tecera. 
A outra borboleta também ficou apreensiva; tinha medo do mundo lá fora, sabia que muitas borboletas não duravam um dia fora do casulo, mas amou a liberdade mais do que os acidentes que viriam. E assim, partiu. Voou em direção a todos os perigos. Preferiu ser uma caminhante em busca da única coisa que determinava a sua essência". (Augusto Cury).





sábado, 1 de junho de 2013

Stop Global Warming








Na semana do meio ambiente, uma reflexão sobre a continuidade da vida neste planeta.


Quercus - Stop Global Warming

quinta-feira, 30 de maio de 2013

"SOMOS DEMASIADAMENTE HUMANOS"

Somos demasiadamente humanos, todavia ignoramos o nós que fica por dentro, mesmo quando se agita numa espécie de rebeldia, numa necessidade pungente de ser acariciado e ter seu desejo colado no topo da lista, esperando realização. O nós que escondemos, sufocamos e violentamos com nossas escolhas, volta cedo ou tarde, ávido em cobrar reparação, sob pena de partirmos em pedaços, esgarçados em alma, corpo, espírito e identidade. Arranca fora nossa máscara e nos expõe, primeiro a nós mesmos, desnudos das nossas certezas.  Juntar o nós que se partiu é a única e irremediável maneira de resgatar o humano, demasiadamente, humano que há em nós. Como numa espécie de catarse, havemos de tornar "processualmente ativas, singularidades isoladas, recalcadas", retirá-las do eixo em que giram em torno de nós mesmos. Forjar e se deixar forjar a subjetividade que acolhe "o mundo da infância, do amor, da arte...bem como tudo que é da ordem da angústia, da loucura, da dor, da morte, do sentimento de estarmos perdidos no cosmos". A salvação está na auto-permissão de cultivar o dissenso (se necessário) e a produção singular da existência. Não podemos ser bons no trabalho de construir novas subjetividades (humana, ética, estética e ecológica), quando arruinados por dentro. Este post é dedicado a C e outras letras, um jovem belo, cheio de incertezas e completamente cético em encontrar prazer e gosto com o trabalho na atenção primária em saúde. Para ele uma dose de ânimo do PESA com todas as suas infinitas possibilidades.

sábado, 25 de maio de 2013

"A MUDANÇA QUE VOCÊ QUER VER NO MUNDO DEVE COMEÇAR DENTRO DE VOCÊ"


Essa é uma verdade sobre a qual devemos deitar e deixar crescer nossas raízes. O PESA nesse 6 de junho vai apoiar a iniciativa do médico provabiano (Wellinton La Picirelli) que se dispôs, no dia do seu aniversário, comemorar a data fazendo um mutirão de limpeza na USF Cidade Nova. Podar, sem destruir claro, as buganvileas que rodeiam o muro da USF e que deixam os olhos alcançar para além das paredes, a beleza em technicolor de suas flores. Retirar a erva daninha que tão afoitamente se entranhou por entre a grama e escondeu-lhe a maciez e a beleza, reduzir a aspereza agressiva dos espinhos que nos deixam com medo de uma aproximação, nos afastam do entorno onde há mais verde e nos aprisiona entre as paredes sujas e úmidas da USF, numa sucessão de manhãs e tardes infindáveis que nos faz cegos, por vezes, em entender que a ambiência agradável, segura e  acolhedora, melhora nosso cansaço, aumenta o
ânimo e nos envolve como um abraço, num cenário mais leve onde cotidianamente desenvolvemos as práticas de saúde. É pretensão nossa que a comunidade participe dessa iniciativa e que tenhamos o apoio das instituições parceiras do PESA, como a URBANA, o Conselho Comunitário do bairro, além das equipes de saúde da família da USF.