O espírito do Natal convida ao encontro, ao estar "com", a fazer-se em alegria despretensiosa onde a vida em um ano, normalmente é passada a limpo, avaliada nos seus prós e contras, e dão espaço a sonhos de projetos outros, que fazem dela (a vida) ser um movimento dialético, um eterno recomeço. Com os idosos é tão mais interessante esse resultado. Não há harmonia nos passos e gestos, cada um a seu modo usufrui do encontro como uma novidade extra, distante de sua rotina de casa, idas à farmácia e ao centro de saúde, preocupação com a família, netos, filhos e com a saúde. Cada um com seu ritmo, suas crenças, seus receios, suas esperanças de viver melhor, com qualidade. Eis a palavra! Qualidade! O encontro hoje serviu para um monte de coisas, mas essencialmente, para reafirmar a certeza de que podemos seguir por um caminho onde as pessoas não devem ser tratadas apenas com técnicas marcadas pelo dualismo cartesiano da pura e simples exatidão onde a doença e a saúde estão refugiadas. Fizemos algazarra, dançamos, falamos de coisas sérias e resgatamos brincadeiras da infância, tudo perfeito. E fizemos isso sem nenhum medo de romper com uma sintonia que teima em fragmentar nossas práticas de saúde. Fugimos da correria onde tudo converge natural e perigosamente para ações individualizadas onde cada um faz a sua parte.Quem irá reunir os mil fragmentos espalhados do que foi esfacelado num mesmo indivíduo que contemporizamos no encontro solitário dos consultórios? É esse nível de experiência do fazer em saúde que alimenta e mata a fome de uma carência própria e que satisfaz o ser humano porque o aproxima de uma maior possibilidade de inteireza. No espaço privilegiado que alberga o grupo desponta a necessidade que todo ser humano tem, de viver coletivamente, de saber-se no outro aquilo não viu ainda em si, porque espelhos não avaliam antes de refletir a imagem, mas encontramos nos pares o olhar que nos remete ao encontro conosco também. Lemos nas histórias alheias os desejos que nos assemelha, aquilo que não experimentamos, mas que gostaríamos; nos identificamos numa fome de saber/sentir o ainda não alcançado, naquilo que está no plano do desejo e que muitas vezes, agoniza em nossa lógica linear. É justamente o fato de aceitar essa angústia como parte da condição humana que permite ao homem desenvolver-se como um ser ético; para tanto, deverá estar o tempo todo construindo o seu processo de autonomia. É o que afirma Nelson Levy (1991), preocupado em conceituar o homem como ser ao mesmo tempo desejante e ético.
A Educação em Saúde é mecanismo importante para o trabalho em grupo, que usa ferramentas que demandam ao profissional de saúde habilidades para desenvolver tarefas cujas exigências estão no campo não só das ciências biológicas e da semiologia - não cabe explicar sintomas, causas, pioras e melhoras. Exige uma maturidade para falar das relações sociais, requer aproximação com a psicologia, com as artes e com práticas alternativas, que fogem ao dia-a-dia do serviço de saúde. Ainda precisa muito ser materializada no discurso institucional que dialoga e exige até, das equipes, o desenvolvimento dessas práticas, mas no fundo, não vê o quanto de necessidade e apoio, ela carece para se tornar ação.