segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Calçada Amiga: A percepção da violência sob a ótica da comunidade



A ideia da roda de conversa é proporcionar a troca de pensamentos, opiniões, visões e leitura que  fazemos do mundo à nossa volta. É acima de tudo a busca por convergência mesmo diante do que se mostra infinitamente contraditório. O encontro hoje com a comunidade, descortinou a angústia que persegue o mundo contemporâneo: a Violência. E o cenário, curiosamente, era uma igreja. As palavras às vezes calam algo que permanece tão mais escondido dentro de nós, mas a fala do outro trás à tona aquilo que tentamos segurar, com medo de nos expor, com receio de nos revelar. Assistiu-se a um colóquio onde a violência foi triturada em pedacinhos para cada um explicar, segundo suas próprias convicções, suas causas e consequências, seus resultados e suas soluções. É complexo o manejo do tema em uma comunidade que experimenta a sensação de estar largada no mundo, desfiliada das políticas sociais que protejam os indivíduos, órfãos de governos que não olham e agem para os domínios dos cidadãos  "sócios" de uma cidade, onde nela constroem seus sonhos de vida. O embate, se assim pode-se falar quando em roda, trás também uma percepção das responsabilidades não só coletivas, mas no plano individual, nas transformações que ocorrem na estrutura e dinâmica das famílias - o jeito de lidar com os conflitos, desejos e perspectivas dos filhos jovens, a educação e edificação de valores. Houve quem defendeu a palmada como modo de conseguir deter tanta liberdade. Houve quem manifestou descrença pelo antagonismo liberdade X responsabilidade. Houve quem desejou o retorno da ditadura como meio de frear a decadência da sociedade, como medida derradeira de evitar sua destruição. Houve os que apontaram o dedo em direção a uma ferida autofágica- a estreita relação entre a violência e as drogas. Que construção pretende uma comunidade que não se mobiliza coletivamente em torno dos seus interesses? que não dialoga de maneira propositiva e com implicação de atos para o seu crescimento, seu cuidado e sua proteção? Como percorrer este campo íngreme e difícil de caminhar onde moram os desafios de se superar a negação ao afeto, ao carinho e ao amor, tão necessários para não se encontrar justificativas e benefícios em castigos físicos na educação de crianças e jovens. Para encontrar resultados que deem conta de sua composição futura como SER não desprovido de proteção? Como essa comunidade pode combinar seus desejos coletivos e realizá-los se não praticar o exercício do diálogo, da grupalidade e da generosidade de construir juntos uma maneira de convocar o poder público para retomar seu papel social, exigir dele também, esse cuidado e essa proteção que deve ser disponibilizada para todos? Não há nenhum segredo em viver, tudo recomeça agora, a partir deste instante. Aquilo que não foi construído poderá vir a ser, depende muito de como vamos nos mover, qual direção seguir, para que lado olhar e que passos essa comunidade almeja trilhar. O entendimento da violência como fator desestruturante das relações sociais passa também pela compreensão de que ela (a violência) funciona como um último recurso que tenta estabelecer o que é justo segundo a ótica de quem agride. Em geral, a violência tem uma motivação corretiva que tenta consertar o que o diálogo não foi capaz de solucionar. Portanto, sempre que houver violência é porque alguma coisa já estava errada - e é essa coisa que precisa de maiores cuidados. É essa coisa errada que precisa ser corrigida para diminuirmos os tipos de violências. São esses encontros que vão se constituindo em espaços de inúmeras possibilidades de se fazer cidadãos livres e conscientes do seu papel no mundo de interesses comuns. É essa a magia que a roda de conversa proporciona, e que tem no PESA o nome singular de CALÇADA AMIGA. Vamos teimando porque pode dar muito certo.

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