terça-feira, 30 de julho de 2013

Em atenção à semana do aleitamento materno


Não sei vocês, não sei os outros... sei de mim, o quanto me gratifica e me dá prazer acolher e contribuir para a superação das inúmeras dificuldades de uma jovem mãe tentando amamentar nos primeiros dias pós-parto. Mamas inchadas, mamilos em botões dolorosos, angústia ao choro sentido do bebê, incertezas e medos pairando feito nuvem. Até que as desconfianças contidas  irrompem em lágrimas pelo rosto e brotam dos olhos um profundo agradecimento porque, finalmente, a dor cessa e o leite desce em cascata, transformando em apenas um ser, dois corpos distintos: Mãe e filho num átimo de corporeificação única; Instante singular da existência. A visita domiciliar hoje, fez brotar subjetividades por vezes esquecidas, soterradas pela rotina. Subjetividades que materializaram-se ali, em duas vidas maravilhosas, crescendo e se fortalecendo lado a lado. Uma crescendo-se por dentro, construindo-se mãe. Outra crescendo-se por fora, construindo-se novo ser, ávido em compensar tamanho esforço do ato de sucção. Gestos que são ternos e eternos, por mais breve que eles sejam. É este o momento que aprendo de mim e me descubro afetiva, viva, intensa ...quando ouso por o coração à disposição do ato...quando não deixo a rotina endurecer e turvar meu olhar. A privação afetiva no exercício das práticas de saúde é muito nociva porque nos impede de ousar, descobrir e utilizar o melhor de nós próprios. Então descobrimos o prazer, a despeito de todas as contigências que permeiam o trabalho na atenção básica. O prazer...esse bichinho astucioso... ele se esconde em coisas muito simples.

domingo, 28 de julho de 2013

De quem e para quem é o Parque da Cidade D. Nivaldo Monte?



Durante a  caminhada no Parque da Cidade com usuários do serviço e equipe multiprofissional, pudemos perceber a generosidade da natureza e sua exuberância, cobrindo com um manto verde de vegetação as dunas, e servindo de abrigo para algumas aves e outros pequenos animais. Se de um lado, pudemos ver a natureza cumprindo o seu papel, alimentada pelas chuvas que caíram nesse período, por outro, vimos a depredação das estruturas físicas que compõem o parque: coretos pichados, elementos de iluminação destruídos, restante da obra inacabada, ausência da guarda ambiental (pelo menos durante o trecho que caminhamos, e não foi curto, não vimos sequer vestígios da presença dela, apesar de ter um número considerável de pessoas utilizando o parque para atividade física). Pensar que todas as dunas que circundam a região são protegidas por Lei Municipal como importantes para recarga aquífera da cidade e componente da
1ª ZPA (Zona de Proteção Ambiental) de Natal e que a iniciativa de construção do parque se constitui em medida para além de qualquer fim eleitoreiro ou narcísico do gestor, resta-nos defender e lutar para que cesse o descaso; Que a gestão municipal cumpra o seu papel de cuidar da cidade pensando no cidadão e no legítimo direito à cidadania ativa, com recursos onde se possa viver e manter sua qualidade de vida. Imaginar que todos os cidadãos de Cidade Nova que buscam acesso ao Parque têm que escalar uma duna ou superar os intermínáveis degraus de uma escada íngreme, representa, no mínimo, descaso e quem sabe até, preconceito com uma fatia de usuários do parque, cujo lado se estende para uma população carente e um bairro de menor importância para o poder público. Não é pra ser assim,  não pode ficar assim e a capacidade de se indignar, guardada dentro de cada um desses cidadãos de cidade Nova precisa ser despertada. O empoderamento da comunidade, seu papel e capital social disponível deve ser posto a serviço para se corrigir injustiças e descortinar certos preconceitos gerenciais. Não é sabido que a fatia do parque que dá para a Av Omar O'grady/Candelária, está toda concluída? Com acesso fácil, confortável? Então Candelária merece e Cidade Nova não? Por Deus! alguém me convença de que não há sabotagem nisso. De qualquer modo, fomos com o grupo HIPERDIA e outros moradores do bairro. É claro que os idosos que costumam frequentar nossas atividades ficaram de fora, como poderiam acessar o parque? seria exigir deles esforço demais e poderia comprometer sua condição física. Vamos discutir estas questões nas próximas reuniões e buscar juntos, soluções que sejam de interesse e envolvimento de todos.
Se perguntarem qual o sentido das equipes de Saúde da Família da USF, estarem envolvidas com essa questão, a resposta é bem simples, mas tem uma significância extraordinária: ESTAMOS FAZENDO SAÚDE, PROMOVENDO SAÚDE, ESTIMULANDO SAÚDE. E melhor, estamos ganhando saúde também, porque nos beneficiamos tanto quanto os usuários, com a caminhada.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Porque sonhar é preciso mais do que querer?

Somos construção primeiro da ideia do que queremos. Não há sentido no caminho sem a busca e sem o sonho, e nos movemos na tentativa de alcançar o alvo, a meta. Nem que sejam aquelas coisas que nem um milagre pode dar. Sim! até elas é-nos dado o direito de sonhar, por que não! A nossa finitude neste planeta é comovente, não pela displicência que tanto nos acomete, por vezes, de esquecermos desse detalhe, mas essencialmente, pela pressa que nos persegue a todo tempo. Ritmo louco, frenético. Tempo  de edificar alicerces que sustentam o amanhã de nossos desejos e perspectivas. Os sonhos nos alimentam de maneira terna e quente, dão a sensação de que é possível até o impossível, delicioso engano do querer que permanece ali, espreitando oportunidades.  E por que não! " Nós não desejamos as coisas porque elas nos dão prazer, mas elas nos dão prazer porque as desejamos". Seguindo esse pensamento de Spinoza podemos lançar  olhos e linhas até as estrelas, visitar superfícies, quimeras, atingir, ao menos em sonho, o lugar que não existe nem em pensamento e fazer-se por isso agradável  surpresa. A vida cotidiana com todas as suas vicissitudes nos sucumbe. Somos  resgatados pelos sonhos e por querer aquilo que está acima de qualquer lógica, aquilo que nos transcende, aquilo que só uma minoria compreende, aquilo que em nós é o nó e o laço ao mesmo tempo, porque nos aprisiona e nos embeleza, depende muito de como cultivamos nossos sonhos e de quem com eles dividimos. E como há verdade nas palavras de Quintana: "sonhar é acordar-se para dentro". E se assim for, há sonho mais lindo e poético do que a vida em si? Compreendê-la de tal maneira e com toda lucidez de que o princípio não está no ventre nem o fim na sepultura, que esses marcos são reveses e que, o que importa mesmo, tem sabor e significado de plenitude. O PESA é um programa que engendra sonhos possíveis e impossíveis também, por tudo que contém os seus propósitos e promessas, por aquilo que pretende edificar e, por vezes, encontrar tão menos reciprocidade do que merecia.