"Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada". Não há nada mais desalentador que ver algo cuja solução não temos domínio. Mas também, não há pior sentimento do que desistir antes de tentar uma saída. As eleições do conselho comunitário do bairro deveriam servir para despertar o ânimo à participação dos sujeitos na concepção do que é comum e que diz respeito a todos. Do que foi dito e do que vimos resta uma certeza de que sempre teremos o ranço secular de na política, assim como na casa grande, a medida da força pelo poder que esmaga e cala a maioria, aqueles cujos direitos são e não são ao mesmo tempo seus, pois que não podem ou não sabem escapar ao seu indulto. Candidatos que não veem nada para além de suas próprias garantias e possibilidades de aquisições pessoais, individuais. O discurso cheio de promessas vãs; além de vãs incapazes de tocar algum sentimento libertador. Tudo fica na ordem dos favores e na maledicência de uns para com os outros. Nenhuma capacidade de mobilizar para o debate maduro, consciente e livre. No fim ganha aquele que conseguiu maior contato, que lembrou mais os atos livres das espúrias, por eles mesmos purificados; sempre o esforço colossal de manter todas as mentes quietas, as línguas moles e relaxadas para um sim submisso e desinteressado, só o movimento de seguir fulano ou cicrano porque já é há tanto tempo o presidente do conselho do bairro. Mudar pra quê? E os outros? Quem são? Ah! terá que entender seus propósitos? saber quem são? o que irão fazer? Dá trabalho pensar, ouvir, se envolver. Melhor seguir tocando a vida, levar filhos e netos à creche e rumar para o trabalho, ou calçadas para jogos de dominó ou fogão, preparar o almoço, dormir depois e aguardar o outro dia chegar. O s outros nem de longe, se apresentam também, em real possibilidade de novas construções de um ideal, onde a maturidade politica da comunidade pudesse deslanchar. Vemos as mesmas baixezas, os mesmos engodos e as mesmas manobras que fazem do exercício da política algo tão execrável, por vezes. Há muitos péssimos exemplos a seguir. Do maior ao menor cortejo de párias que se colocam como "resolventes" seres aos nossos mais complexos problemas de vida em comunidade/sociedade. Esse estado de desvinculamento que prolifera nas gerações que, estranhamente, têm mais acesso a ver, ler e assistir a vida política do bairro, da cidade e do país, que vai mais pra escola, que usa mais internet, e que lhe facilitaria enxergar tudo sob outros prismas, não consegue fazê-las (as gerações) se desvencilhar da perspectiva caótica que se instalou quando a discussão emerge para a política. E a falta dessa implicação com responsabilidade e senso de justiça para ouvir e interpretar os atos e os gestos de quem se dispõe a ser o POLÍTICO da vez, faz mergulhar ainda mais no abismo da ignomínia, onde o desejo que precisava ser desejado por todos fica retido e solitário nos corações e mentes de alguns, apenas. Tudo leva a reforçar a crença de que política é só para os políticos e quem bem tiver juízo, nisso não se mete. Que estranheza essa, do homem, de se negar, a si próprio, o direito e a diferença concedido como um dom, que o distingue dos demais seres com os quais compartilha o espaço, neste planeta!
O PESA é uma programa de educação ambiental desenvolvido pela Unidade de Saúde da Família do bairro de Cidade Nova em Natal, o qual busca através de parcerias e da Intersetorialidade, mecanismos de alcançar ações e metas propostas pelo Programa.A principal característica do nosso trabalho é a sensibilização da comunidade para a preservação do meio ambiente e redução dos riscos ambientais, como forma de proteger a saúde das pessoas do bairro.
sábado, 31 de agosto de 2013
domingo, 18 de agosto de 2013
Saneamento Básico: O retrato de Cidade Nova é diferente de Natal?
Nenhum domicílio do bairro possui esgotamento sanitário. As fossas espalhadas por todos os quintais dos bairros, sejam periféricos ou os de áreas privilegiadas e não só em Cidade Nova, já se tornaram uma ameaça à potabilidade da água em Natal. A água servida é destinada para valas instaladas na frente das casas, tornando-se criadouros de mosquitos que rompem a integridade da pele das crianças e adultos causando dermatoses que recidivam o tempo todo. Verminose do tipo áscaris passa a ser a mais comum das mazelas entre as crianças menores de cinco anos, perturbando-lhe o ganho ponderal e alterando-lhe a curva do crescimento. É nesse cenário e sob essas condições que nascem e crescem as crianças de Cidade Nova. O desafio de atuar e desenvolver práticas de saúde que alterem essa realidade, não pode prescindir do estímulo ao exercício da cidadania, nem da busca de direitos às políticas públicas que proporcionem condições adequadas e favoráveis à vida das pessoas e à proteção das crianças. O PESA quando coloca em sua pauta de ações a emancipação política e ética da comunidade, o faz tão somente, frente a necessidade de produzir nos sujeitos, desejos e anseios de construção de um modo melhor de se viver, e fortalecer na comunidade o surgimento de um sujeito político que não se deixe submeter a essa forma dominante, domesticante e alienante de se fazer política perpetuada em nossa realidade. Que assumam o papel de construir-se novos seres políticos cuja perspectiva, passa a ser o nascimento de seres humanos onde o significado localiza-se no conjunto de relações sociais, de maneira que não se reproduza a cultura que oprime e disciplina os corpos, idéias e desejos, mas que promova em suas vidas a emancipação coletiva e individual; a antecipação de suas práticas onde reine a liberdade sem domínio neste mundo. Discutir também que as atitudes conscientes significam importante compromisso frente à natureza, para que não reproduzam, e até impeçam, a lógica depredadora e desintegradora que se reconhece no conceito de “exploração”; que cultive o desafio à manutenção da criatividade, inventando uma maneira de viver no mundo que permita estabelecer relações de intercambio com o ambiente no qual nascemos e crescemos, evitando os riscos já evidentes de sua destruição, ou de torná-lo inabitável para a espécie humana; começando pelo locus, o pedaço menor, a fatia cuja maior apropriação se tem, que é o espaço domiciliar e urbano do bairro, para seguir defendendo, com atos e escolhas, o que for melhor para a cidade, o país, o planeta. As oficinas de Educação Ambiental para a comunidade dispararam uma série de intervenções e demandas para órgãos públicos que com efeito, tiveram que atender ao chamamento e as exigências do desejo coletivo de mudanças e soluções. O planejamento de manter o trabalho de EA nas escolas com crianças e jovens, foi crucial para imprimir na pauta das famílias e instituições, a necessidade de pensar o ambiente de maneira responsável, onde todos compreendessem que os processos cotidianos de criação de autonomia, de constituição de sujeitos individuais e coletivos, protagonistas de sua própria história podem e devem ser, exercido por todos. No momento, os alunos que passaram pelo processo de capacitação em EA irão elaborar uma cartilha com suas impressões e aprendizado, sobre os problemas ambientais do bairro. O projeto foi financiado pela PROEXT/UFRN/MINISTÉRIO DAS CIDADES e coordenado pelo DSC/UFRN e PESA-USF CIDADE NOVA. Parcerias que dão todo o sentido a ele - o PESA- ser o programa que é.
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
"Todo ser humano é um estranho ímpar"
"Posso falar com a sra? que história é essa que o médico vai embora? nós não temos mesmo muita sorte! Ficamos sem médico um tempão (dra Inácia era tão boa mas foi embora) e quando chega um que escuta a gente, não tem pressa em terminar a consulta, que "incaica" a gente todinho, examina direitinho, só passa remédio bom que a gente logo cura... aí vem a notícia que ele vai embora. Com a sra e com esse médico a gente tava garantido, mas agora? como vai ser? nós não podemos ficar assim...temos que fazer alguma coisa, o que essa secretaria tá pensando? esses pensamentos tortos de tirar o médico daqui, num tá certo não." (J.B, 63 anos). Fui abordada no corredor da unidade esta semana, para ouvir esse desabafo de um usuário que está diariamente no serviço para tratar úlceras venosas, que melhoram e pioram o tempo todo. É tão interessante ouvir da comunidade suas impressões e aquilo que para ela tem realmente significado! Na fala deste senhor é nítido o sentimento que coloca em graus de valoração, o profissional que o atende, muito mais no plano humano e do cuidado ético, do fazer com implicação, da atitude acolhedora do que na solução para o seu problema. Sim, porque apesar de ter conseguido ser medicado, visto por angiologista/cirurgião vascular, seu problema continua lá, arrastando-se. Mas percebe-se na fala o acalento e ânimo em saber que quando precisar, o médico vai estar lá. E pode-se até esquecer o quanto de iniquidade há em certas condutas.Tantas vezes consegue-se com tanta dificuldade marcar consultas com os ditos especialistas, para constatar depois que as práticas e condutas seriam as mesmas tomadas na USF. A despeito de qualquer resultado, mesmo considerando que ele, no fim, é o que se busca, precisamos dessa clínica do olhar, do palpar, ver e enxergar não só o corpo, mas essencialmente, "o sujeito que habita o corpo"- a clínica dos afetos, que se despe, em parte, do positivismo e da visão radicalizada no plano cartesiano; a ciência permeada por uma subjetividade que vem do sujeito que ali se põe aberto, frágil e inteiramente disponível para o tratamento dos males que lhe afetam, até mesmo os aspectos mais intrínsecos de sua personalidade, o jeito de ver e pensar as coisas. Ele vem (o sujeito) aberto e exposto ao julgamento do saber técnico, da ciència por excelência. Suas crenças e suas impressões, por vezes, não recebem da clínica, qualquer validade. E ele (mais uma vez, o sujeito), só ele, na maioria das vezes, pode reconhecer em seu corpo físico elementos que para outros são profundos segredos. Não haveria momento melhor para perguntar que importância se vê na figura do médico e na solução concreta deste, aos seus problemas...à sua saúde, mas não foi necessário. Estava ali, escancarado na sua fala, que a importância vem do modo de ser e de agir que, especificamente, esse médico, por quem ele lamentava, imprimiu na relação com o paciente, e sob que bases decidiu pautar a sua forma de cuidar. E é assim que nos deixamos transparecer... permitir aos outros enxergar nossas raridades. O eterno movimento de sermos igual-desigual como nos lembra Carlos Drummond de Andrade:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.
Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as acções, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou
[coisa.
Ninguém é igual a ninguém.
Todo o ser humano é um estranho
ímpar.
Carlos Drummond de Andrade, in 'A Paixão Medida'
domingo, 4 de agosto de 2013
" A saudade até que é bom...é melhor que caminhar vazio"
Nos vem, as vezes, de longe... de tão longe certas lembranças, daquelas que alimentam a alma e dá uma saudade enorme do que já foi. Quando bem jovens somos incivilizados com o tempo. O tempo de escolhermos que adultos queremos ser, tempo que tem pressa em ser, sem espreitar tempo algum que ainda resta, porque nos sentimos eternos e duradouros. As coisas para as quais nos entregamos, as tarefas pelas quais nos desdobramos tendem sempre a nos afastar das pessoas e fragilizar vínculos estabelecidos em momentos preciosos do SER. Corremos feito leopardos na savana, em busca de uma liberdade e de uma procura que nos torne completos, porém no final, sempre percebemos que não chegamos inteiros, alguns não chegam nem pela metade. Não há nenhuma completude em nós... não haverá nunca! Eis uma busca inútil. Estamos reservados como espécie, à condição de não acabados, de construção permanente. Nossa miserável espécie é feita de tal maneira que mesmo disfarçados de heróis e vilões, ainda assim, dorme dentro de nós um ser inocente, cuja maior angústia é não saber mais parar o tempo. Mas parar o tempo pra quê? Pra se sentir que se correu demais e distanciou-se irremediavelmente de qualquer possibilidade de controle? Mas o que é o controle senão algo que nos acorrenta inexoravelmente ao engano? Não haveria sacrifício nem sofrimento maior ao ser humano do que perder sua condição de provisório? Ganhar a imortalidade para depois fazer o que com ela? Viver atormentado como Prometeu cujo maior desejo era ser mortal? Nossa condição humana é tão delicada e se faz tão distante de se amparar no que realmente é edificante, porque esquecemos de amar melhor, sentir melhor, olhar com inteireza e com todo sentimento aquilo que é mais essencial, aquilo que não exige tanto dinheiro nem muito esforço, porque já está ganho, é dado-nos como presente basta só apanhar e desfrutar. A ideia aqui colocada pode até parecer uma repetição simples do lugar comum, da inexistência completa do vir-a-ser, da filosofia facilitada desprovida de qualquer profundidade intelectual, e é mesmo, contudo, a despeito de qualquer exigência, e ao mesmo tempo em respeito a ela, é até por ela que não devemos nunca ocultar sentimentos, prazeres, saudades e desejos, seja lá como for a maneira que escolhemos fazê-lo e com a capacidade que está ao nosso alcance de legitimar e reconhecer que não estamos aqui, senão para viver bem, respirar bem... viver esse tempo sem aguardar que nos façam felizes. Temos o dever de providenciar as possibilidades das emoções que nos conduzem ao êxtase ou ficaremos acuados ante a própria incompletude e a inevitável angústia do confronto com a nossa temporalidade.
Porque o PESA pode trazer essa dimensão tão subjetiva, para esse espaço? Porque nos permitimos sentir e dizer que estamos com saudades do que já construímos, durante esses 10 anos de trabalho, onde tantas parcerias se construíram e se desfizeram, quantas pessoas incríveis edificaram junto o sonho coletivo da transformação e lutaram tendo como fundamental em seus atos, a luta em si. E agora, após concluídas suas tarefas, já que o tempo as afastou porque impôs limites físicos ou lhes reteve pelo desejo de seguir nova direção e novos sonhos, são ainda plenas de beleza e saudade, pelo que foram, pelo que permanecem sendo e ainda serão: dona Livramento, dona Fca Albino, dona Celina, seu Pedro, dona Cecília, dona Lourdes, Fátima Lucas, Alda, dra Inácia, Lidenice, Isabel, Ivone, Naim, Tadeu, Diogo, Raquel, Keyla Mafalda, Petrònio, Josivam Cardoso, Nívia...e tantos! mas tantos outros, que nem se pode contar.
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